Autor Tópico: A Cigarra e a Formiga ou a nossa triste realidade  (Lida 2660 vezes)

Offline scenick

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A Cigarra e a Formiga ou a nossa triste realidade
« em: 31 de Janeiro de 2014, 22:13 pm »
Versão  alemã


A formiga  trabalha durante todo o Verão debaixo de Sol. Constrói a sua  casa e enche-a de provisões para o  Inverno.

A cigarra  acha que a formiga é burra, ri, vai para a praia, bebe  umas bejecas,  vai ao Rock in Rio e deixa o tempo  passar.

Quando chega  o Inverno a formiga está quentinha e bem alimentada. A  cigarra está cheia de frio, não tem casa nem comida e  morre de fome.

Fim


Versão  portuguesa

A formiga  trabalha durante todo o Verão debaixo de Sol. Constrói a sua  casa e enche-a de provisões para o  Inverno.

A cigarra  acha que a formiga é burra, ri, vai para a praia, bebe  umas bejecas,  vai ao Rock in Rio e deixa o tempo  passar.

Quando chega  o Inverno a formiga está quentinha e bem  alimentada.

A cigarra,  cheia de frio, organiza uma conferência de imprensa e  pergunta porque é que a formiga tem o direito de estar  quentinha e bem alimentada enquanto as pobres cigarras, que não tiveram  sorte na vida, têm fome e frio.

A televisão  organiza emissões em directo que mostram a cigarra a tremer  de frio e esfomeada ao mesmo tempo que exibem  vídeos da formiga em casa, toda quentinha, a comer o seu jantar com uma mesa  cheia de coisas boas à sua frente.

A opinião  pública tuga escandaliza-se porque não é justo que uns passem  fome enquanto outros vivem no bem bom.  As associações anti pobreza manifestam-se diante da casa da formiga. Os jornalistas  organizam entrevistas e mesas redondas com montes de comentadores que comentam  a forma injusta como a formiga enriqueceu à custa da cigarra e exigem  ao Governo que aumente  os impostos da formiga para contribuir para a  solidariedade social.

A CGTP, o  PCP, o BE, os Verdes, a Geração à Rasca, os Indignados e a  ala esquerda do PS com a Helena Roseta e a Ana Gomes  à frente e o apoio implícito do Mário Soares  organizam  manifestações diante da casa da formiga.

Os  funcionários públicos e os transportes decidem fazer uma greve  de solidariedade de uma hora por dia (os  transportes à hora de ponta) de duração ilimitada.

Fernando  Rosas escreve um livro que demonstra as ligações da formiga com  os nazis de Auschwitz.

Para  responder às sondagens o Governo faz passar uma lei sobre a  igualdade económica e outra de anti descriminação (esta  com efeitos retroactivos ao princípio do Verão).

Os impostos  da formiga são aumentados sete vezes e simultaneamente é  multada por não ter dado emprego à cigarra. A casa da  formiga é confiscada pelas Finanças porque a formiga não tem dinheiro que  chegue para pagar os impostos e a multa.

A formiga  abandona Portugal e vai-se instalar na Suíça onde, passado  pouco tempo, começa a contribuir para o  desenvolvimento da economia local.

A televisão  faz uma reportagem sobre a cigarra, agora instalada na casa  da formiga e a comer os bens que aquela teve de  deixar para trás.

Embora a  Primavera ainda venha longe já conseguiu dar cabo das  provisões todas organizando umas "parties" com os amigos e  umas "raves" com os artistas e escritores progressistas que duram  até de madrugada. Sérgio Godinho compõe a canção de protesto "Formiga  fascista, inimiga do artista...
.

A antiga casa  da formiga deteriora-se rapidamente porque a cigarra está-se nas  tintas   para a sua conservação. Em  vez disso queixa-se que o Governo não faz nada para manter a casa como deve de ser. É  nomeada uma comissão de inquérito para averiguar as causas  da decrepitude da casa da formiga. O custo da comissão (interpartidária mais  parceiros sociais) vai para o Orçamento de Estado: são 3 milhões de euros por  ano.

Enquanto a  comissão prepara a primeira reunião para daí a três meses,  a cigarra morre de  overdose.

Rui Tavares  comenta no Público a incapacidade do Governo para corrigir  o problema da desigualdade social e para evitar as  causas que levaram a cigarra à depressão e ao  suicídio.

A casa da  formiga, ao abandono, é ocupada por um bando de  baratas, imigrantes ilegais, que há já dois anos que  foram intimadas a sair do País mas que decidiram cá ficar, dedicando-se ao  tráfego da droga e a aterrorizar a vizinhança.

Ana Gomes um  pouco a despropósito afirma que as carências da  integração social se devem à  compra dos submarinos, faz uma relação que só ela  entende entre as baratas ilegais e os voos da CIA e  aproveita para insultar Paulo Portas.

Entretanto o  Governo felicita-se pela diversidade cultural do País e  pela sua aptidão para integrar  harmoniosamente as  diferenças sociais e as contribuições das diversas comunidades que nele  encontraram uma vida melhor.

A formiga,  entretanto, refez a vida na Suíça e está quase  milionária...

FIM

Offline MaNeL

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Re: A Cigarra e a Formiga ou a nossa triste realidade
« Responder #1 em: 31 de Janeiro de 2014, 23:12 pm »
 :happy: :happy: :happy:

muito bem escrito :)

Offline deathophobia

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Re: A Cigarra e a Formiga ou a nossa triste realidade
« Responder #2 em: 01 de Fevereiro de 2014, 05:44 am »
verdade...

Offline pjrcampos

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Re: A Cigarra e a Formiga ou a nossa triste realidade
« Responder #3 em: 02 de Fevereiro de 2014, 09:09 am »
Faço minhas cada uma destas palavras. E estou muito fresco nesta questão, com o roubo das minhas jantes esta semana, por uma destas "cigarras"...
O que é pena é que textos destes circulem, quase toda a gente bata palmas e concorde, mas o efeito prático é que tudo fica igual ou pior. Ainda se consegue a formação de mais uma comissão de inquérito a 3 milhões por ano para processar quem diz as verdades, e criar mais uma defesa ao cada maior numero de vermes da nossa sociedade...
Só vos digo uma coisa: algo vai mal. Algo vai MUITO mal nesta sociedade. E o que mais me entristece é que um dia nos vamos dar conta do erro, mas talvez seja já demasiado tarde. Entretanto, a meia duzia de "formigas" que continua a lutar contra a maré vai sustentando as "cigarras". E pagando-lhes rendimentos minimos, casas, subsidios, ajudas, alimentação... E seguimos todos sorridentes, trabalhando como animais... E achamos normal que se questionem rendimentos minimos de sobrevivencia a idosos que nao podem trabalhar, mas que se dêem a jovens de 25, 30, 35 anos, apenas porque são preguiçosos. E ainda lhes damos casas para viver a pagar rendas de 50€ por mes (e menos!), que ainda se dão ao luxo de não pagar, porque apesar de gastar fortunas em tabaco por mês, dizem não ter dinheiro para a pagar. Mas claro, afinal, coitados, não têm culpa dos vicios! E faz parte da natureza humana sustentá-los! Porque coitados: não têm culpa! A culpa é da sociedade!... E achamos tudo normal, e seguimos sorridentes, achando que isto é que é uma sociedade desenvolvida! Humana e solidária, com direitos iguais. E se apanhados a roubar em flagrante, coitados: São uns marginalizados pela sociedade. Uns revoltados! E há é que lhes pagar cursos, e colocá-los novamente em liberdade, para voltarem a manifestar a sua revolta... Roubando!
Enfim, abraço a todas as formigas!...