O primeiro pódio de Portugal no Dakar O terceiro posto de Helder Rodrigues no Dakar 2011 ficará bem registado na história do automobilismo português, já que é a primeira vez que um piloto luso consegue melhor que o quarto posto na prova. Até aqui só Carlos Sousa (Mitsubishi) em 2003 e Helder Rodrigues o ano passado tinham chegado ao quarto posto, resultado agora melhorado pelo valoroso piloto da Yamaha.Há muito que os portugueses trilham caminho pelo mítico Dakar, desde 1982, quando José Megre e Manuel Romão partiram para a mítica aventura, com o número 214 estampado no UMM. A eles se juntaram ainda Pedro Cortês/Joaquim Miranda e Diogo Amado/Pedro Vilas Boas, todos igualmente em UMM, tendo todos terminado. No ano seguinte, a "armada" nacional viria a duplicar, baixando para cinco equipas em 1984... e depois uma paragem de seis anos até António Lopes voltar a colocar a bandeira nacional entre os inscritos e logo como o primeiro motard a tentar a sua sorte.Em 1992, José Megre encerra as suas participações no Dakar, no mesmo ano em que Teresa Cupertino de Miranda se torna a primeira mulher portuguesa a participar, no que viria a ser seguida, anos depois, por Joana Lemos e Céu Pires de Lima (ambas em 1997) e Elisabete Jacinto (1998).As edições 2001/2003 foram das melhores para Portugal, já que Bernardo Vilar (2001) e Paulo Marques (2002) conseguiram vitórias na categoria Maratona, sendo ambos 10ºs à geral, enquanto Carlos Sousa termina em quinto à geral em 2001, o melhor resultado de um concorrente português em quatro rodas até à altura, batendo finalmente o sexto posto de Duarte Guedes em 1995, num ano em que esteve perto da vitória e Jutta Kleinschmidt se sagrou como a primeira (e única até agora) mulher a vencer. Repetindo o quinto posto no ano seguinte, foi em 2003 que o piloto de Almada terminou às portas do pódio.Desde então, Carlos Sousa tornou-se presença (quase) contínua entre os melhores pilotos privados ou semi oficiais, Hélder Rodrigues, Rúben Faria e Paulo Gonçalves assumiram a passagem de testemunho de Marques, Vilar e companhia, enquanto Elisabete Jacinto trocou as duas rodas pelos camiões.Ainda não foi desta que vencemos, mas já se escreveu mais uma página da história, agora dum pódio, equivalente ao terceiro lugar de Helder Rodrigues. Para quando uma vitória?
Piloto luso em entrevista depois da consagração no Dakar 2011Hélder Rodrigues: "Vencer o Dakar é um sonho de criança e agora sei que estou cada vez mais perto" Rei morto, Rei posto! É desta forma que, terminada a festa em Buenos Aires, onde Hélder Rodrigues subiu ao pódio do Rali Dakar Argentina-Chile 2011, tornando-se no primeiro piloto português a alcançar um terceiro posto no Dakar, o piloto já pensa no próximo. Agora, é tempo de balanço desta quinta participação na mais dura prova do todo-o-terreno mundial. Foi emocionante esperar na meta pela confirmação do terceiro lugar?HR: "Foram momentos de grande ansiedade e talvez os minutos mais longos da minha vida. Quando se tornou oficial não consegui conter as emoções, senti-me o piloto mais feliz do Mundo". É um resultado de sonho?HR: "Sem dúvida que sim, mas tenho a clara noção que cheguei onde cheguei por mérito próprio. O Rali Dakar é de longe a mais dura competição de todo-o-terreno do Mundo e o sucesso resulta de inúmeros fatores. No que me diz respeito, sei que fui sempre rápido e competitivo. Não escondo que fiquei algo surpreendido com a subida do quarto para o terceiro lugar, mas o Dakar é mesmo assim. No ano passado fui eu que tive muitos problemas e sofri com isso, pois cheguei a andar em segundo da geral e depois tive que me contentar com o quarto lugar. Desta vez foi o Francisco Lopez Contardo que teve problemas, mas compreendo a frustração que ele sentiu". Tiveram oportunidade de falar no assunto?HR: "Falei logo com o Francisco 'Chaleco ' Lopez, de quem sou bastante amigo. Ele felicitou-me pelo meu terceiro lugar e eu também lhe dei os parabéns pelo excelente Dakar que ele fez. Ele foi aliás o primeiro a lembrar que no ano passado tinha sido ele a ganhar com o meu atraso. Desta vez eu fui mais feliz, a competição é mesmo assim. Foi um momento duro para todos, mas a nossa amizade está acima disso". Queres fazer um resumo do que foi o Dakar 2011?HR: "Terminei como é sabido com um resultado histórico, o terceiro lugar, mas para lá chegar tive que sofrer muito. Penso que foi o Dakar mais complicado da minha carreira, onde as coisas aconteceram de uma forma muito diferente se compararmos com a prestação que tive noutras edições. Para começar tive uma primeira semana que correu muito mal, desde a primeira etapa. Atrasei-me bastante e não foi fácil encontrar o meu melhor ritmo de corrida. Depois ganhei ânimo e com muita determinação lá fui subindo, chegando ao dia de descanso com uma motivadora vitória na etapa. Estava de novo no rumo certo, quando em dois dias fui traído pela navegação e me atrasei mais de uma hora. Continuei sempre ao ataque, etapa após etapa, sempre convicto de que ainda era possível atingir o meu grande objetivo para este Dakar. Acreditaste sempre?HR: "Já tenho alguma experiência do Dakar e por isso nunca baixei os braços, mesmo quando via que estava mais longe do Chaleco. Sabia obviamente que me estava a afastar do objetivo, mas procurei abstrair-me e dar sempre o meu melhor. Por isso cortei a meta com o sentido de missão cumprida.É o ponto mais alto da tua carreira?HR: "O pódio do Dakar é sem dúvida uma grande meta que consegui atingir. Fiquei atrás de dois pilotos oficiais e, portanto, fui o melhor piloto semi oficial, o melhor piloto Yamaha e também o melhor português. São muitos motivos de satisfação". E agora, projetos para o futuro?HR: "Agora quero um pouco de paz e descanso, pois estes 9.000 quilómetros deixaram-me de rastos. Depois é altura de começar a pensar no próximo Dakar. Sou cinco anos mais novo que o Cyril Despres e três do que o Marc Coma e sei que tenho ainda pela frente muitos anos de Dakar. Vencer o Dakar era um sonho de criança, agora sei que estou cada vez mais próximo de o concretizarIn Autosport