Ta muito menos cuidado do que há uns 8/9 anos atrás quando ai fui a ultima vez. Foi deixado ao desleixo.E para quem gosta de ver dinheiro torrado, e só quando sai ou vai para o Cabo Espichel olhar para os terrenos a volta da estrada que liga a Sesimbra. Vê-se vivendas/casas/pequenos prédios a perder de vista devolutos/não terminados devido a ilegalidades nas construções.
Tive lá à 2 semanas. Muito bonito.
Citação de: zecmax em 04 de Julho de 2011, 18:00 pmTive lá à 2 semanas. Muito bonito.fotos??!!
Citação de: Lipe em 04 de Julho de 2011, 19:34 pmCitação de: zecmax em 04 de Julho de 2011, 18:00 pmTive lá à 2 semanas. Muito bonito.fotos??!! não tirei.........
Na foto onde se vê duas viaturas destruídas, posso afirmar que o ocupante da segunda viatura não morreu, aquando do embate na primeira viatura o choque foi amortecido tendo o ocupante ficado apenas com algumas escoriações, isto foi-me dito por um amigo dos B.V.S. que na altura lá foi prestar o socorro. Quanto aos suicídios no local, neste momento são mais raros, principalmente se for com o carro, uma vez que os acessos para viaturas foi vedado mesmo para evitar situações destas. Quanto ao local é sim um local de culto desde meados do Seculo XV, à Nossa Senhora do Cabo Espichel, pensando-se até que já existiria peregrinações ao local anteriores a essa data, quanto as casas que se encontram fechadas, não serviam para os padres dormirem, mas sim para repouso e descanso dos peregrinos. Deixo abaixo um pouco mais sobre a historia deste local: Cabo Espichel O Cabo Espichel é um dos lugares mais impressionantes da Costa Azul graças a paisagem que o rodeia. Nas suas origens serviu de lugar defensivo do território. No século XVIII se ergueu nos seus arredores um santuário dedicado a Nossa Senhora do Cabo, que conta a lenda apareceu à um casal de idosos neste lugar no ano de 1410. Foi o primeiro lugar onde se instalou um farol para iluminar a costa conhecida pelos ingleses como 'Costas Negras' no ano de 1790.O Farol - Cabo Espichel O Farol do Cabo Espichel foi construído no ano de 1790, sendo o primeiro farol marítimo instalado nas costas de Portugal conhecidas pelos ingleses como 'Costas Negras'. Está formado por uma torre hexagonal de 32 metros de altura a qual tem em anexo um edifício. Sua iluminação sofreu modificações ao longo da sua história, no ano de 1886 a luz passou a ser alimentada por vapor de petróleo e no ano de 1926 já funcionava com electricidade. Hoje em dia tem um alcance de 26 milhas.Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel O Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel é um dos mais importantes do concelho de Sesimbra. Como seu próprio nome indica está situado nas imediações do Cabo Espichel. Foi construído no século XVIII e é estilo maneirista e barroco. É de planta longitudinal composta por uma nave e capela-mor. Em cada lado da sua fachada encontra-se as torres sineiras. Unido ao Santuário se encontram um conjunto de dependências que serviam de refúgios para os peregrinos. Está classificado como Bem de Interesse Público desde o ano de 1950.O conjunto arquitectónico do chamado Santuário de Nossa Senhora da Pedra Mua, implantado no extremo do Cabo Espichel, é sem dúvida o mais importante e característico do Concelho. Há neste precioso agregado de edificações, desde a antiga Ermida da Memória à Igreja Seiscentista, desde os corpos rústicos das "hospedeiras" ao aqueduto e à "Casa da Água", uma unidade de valores gráficos que fez esquecer a disparidade de estilos. O culto de Nossa Senhora do Cabo perde-se na bruma dos tempos e é crível que anteriormente à sua veneração - a partir do Séc. XV - o Cabo Espichel fosse centro de peregrinações.O actual culto remonta a cerca de 1410, ano em que teria sido descoberta na extremidade de Cabo Espichel a venerada imagem de Nossa Senhora do Cabo, por dois velhos da Caparica e de Alcabideche, que em sonhos coincidentes teriam sido avisados pelo Céu. Antes de 1701 - data da construção da actual igreja - o arraial era circundado de casas para os romeiros que não obedeciam a alinhamento especial, e que se dispunham em torno do primitivo templo. A partir de 1715, a grande afluência de círios ao Cabo obrigou a que se construíssem hospedarias com sobrados e lojas.A arcarias que corre ao lado de dois corpos consegue sem recorrer a arranjos construtivos de perfil erudito. A obra das hospedarias iniciou-se em 1715, mas só entre 1745 e 1760 foi ampliada para as dimensões actuais. A igreja actual remonta a 1701 e é da iniciativa real de D. Pedro II. Penetrando no templo através de um bom guarda-ventos de madeira do Brasil, vislumbramos a ampla e bem proporcionada nave, coberta por um tecto em madeira com uma composição a óleo que representa a Assunção da Virgem, esta é uma obra do pintor Lourenço da Cunha. Sobranceira à escarpas que afloram no extremo do Cabo Espichel, a poente da igreja e das hospedeiras, situa-se a Ermida da Memória, templinho implantado precisamente no local onde a tradição diz ter-se dado a aparição da Virgem. Pedra da MUAVista Geral da Arriba do Cabo Espicel - Situada nas arribas do Cabo Espichel, sob a Ermida de Nª Sª da Memória (até 1428, a ermida era conhecida por Santa Maria da Pedra da Mua), junto ao majestoso conjunto arquitectónico do Santuário da Sª do Cabo, Ampliar a Foto encontra-se a, talvez mais antiga jazida de pistasConjuntos de marcas contínuas (pegadas) produzidas pela passagem do mesmo animal, contendo a reimpressão do mesmo "autópode", pé ou mão.de dinossauros conhecida ( muito embora os autores da descoberta a atribuíssem a um animal quase mitológico a MUA, sendo em 1981 reconhecida como jazida de pegadas de dinossáurio ). Assente em vastas lajes calcárias com inclinações de Pormenor das Pegadas local A->30 a 40º para norteProveniente de fenómenos geológicos ( Tectónicos ), gerados por energia térmica do interior da Terra, que dobram, fraturam, enrugam e até chegam a inverter a posição original das camadas sedimentares., pertencentes ao Jurássico superiorMapa dos Tempos Geológicos do Concelho de Sesimbraantigos fundos planos de zonas litorais lagunares. Resultantes da deriva do Continente Africano para norte e a sua colisão com o sul da Europa, que provocaram o enrugamento dos Alpes e outras Ampliar a Fotomontanhas. Nesta jazida podem observar-se várias pistas de Saurópodes (herbívoros) e Terópodes (carnívoros) de pequenas e grandes dimensões, que viveram e por cá evoluíram em manadas à cerca de 150 a 140 milhões de anos. Dinossáurio Herbívoro, quadrúpede, volumoso de longo pescoço, pequena cabeça e cauda comprida. Um destes belos trilhos está directamente ligado à lenda de Nª Sª da Pedra da MUAPormenor das Pegadas local B->, (1410), que fala das pegadas de uma mula gigante que transportou Nª Senhora do nível do mar até ao cimo do Cabo e que fez do sítio um local sagrado (ANTUNES, 1976; SERRÃO, 1981; GALOPIN DE CARVALHO & Ampliar a FotoSANTOS, 1992). Documentado num dos painéis de azulejo da ErmidaAmpliar a Foto da Memória.Da análise das pistas patente na figura, recolhe-se várias informações importantes, por exemplo que as mesmas foram produzidas por dinossáurios de diferentes corpulências. Note-se que o comprimento da perna, será cerca de quatro vezes o comprimento da pegada do pé, e por conhecimento dos esqueletos fossilizados descobertos, em todo o mundo, é possível obter as dimensões totais do animal que produziu a pegada. Pegadas de 38 a 40 cm, respeitantes a pequenos Saurópodes com membros entre 1,5 e 1,8 m. Pegadas de 70 a 73 cm, correspondendo a grandes Dinossáurios com membros de 2,8 m. "Assim, a laje 3 da Pedra da Mua põe em evidência um exemplo de comportamento gregário em dois grupos de saurópodes de dimensões distintas, que viajavam para sudeste. Trata-se do primeiro exemplo convincente de comportamento gregário nos saurópodes, reconhecido numa jazida europeia, bem como o melhor testemunho conhecido entre animais tão pequenos.A camada a que demos o número 5 e que parece ser a que é conhecida pelo menos desde o século XIII, conserva a evidência da passagem de cinco saurópodes. São constituídas por impressões nítidas, profundas, com as margens verticais, algumas das quais com rebordos volumosos resultantes do afastamento do sedimento do centro da marca para a sua periferia, devido à pressão exercida pelos pés no solo." Santuário de N. Sra. do Cabo EspichelHá mais de 500 anos foi construída uma ermida para as gentes do mar guardarem uma imagem da Virgem, venerada há muito em cima do rochedo denominado Pedra de Mua, no Cabo Espichel, Sesimbra. À sua volta foram crescendo modestas casas para receber os peregrinos que aqui demandavam.À Sra. do Cabo, designação dada a Sta. Maria da Pedra de Mua, afluem vários e numerosos grupos de círios (grandes grupos de peregrinos). Foi ao designado Círio Saloio (peregrinos das redondezas da capital) que coube o incremento da construção do santuário, conforme se pode ler numa lápide: "Casas de N. Sra. de Cabo feitas por conta do Sírio dos Saloios no ano de 1757 p. acomodação dos mordomos que vierem dar bodo".A construção da igreja prolongou-se no tempo e recebeu ofertas de obras notáveis. Este conjunto arquitetónico, de traços simples, foi cuidadosamente tratado. Um extenso largo é enquadrado a poente pela igreja, ladeada de duas passagens abobadadas e encimadas por um andar ritmado por janelas de sacada. A fachada nobre do templo, marcada pela sua rigidez, é limitada por duas torres sineiras. Axialmente, abre-se um portal moldurado por pilastras, rematadas por pináculos e encimado por frontão curvo. O portal é ladeado por duas portas, também elas rematadas por frontões curvos. O portal é encimado por três janelas de vão retangular. No frontão triangular da empena, ornado por composições de volutas, abriga-se num nicho a imagem da Virgem.O interior do templo, de nave única, é ricamente decorado. A nave apresenta as paredes em pedras brancas e negras polidas, provenientes da Arrábida. Aqui destaca-se a tribuna real, erguida no reinado de D. José I; do lado contrário, estão três pinturas barrocas representando o Nascimento de Jesus, a Apresentação do Menino no Templo e a Adoração dos Magos. Superiormente, mostram-se mais seis tribunas, intercaladas com telas setecentistas que versam episódios de Nossa Senhora. De notável interesse são igualmente os retábulos barrocos das capelas laterais, que ostentam boas imagens setecentistas, como a do Senhor Jesus do Bonfim e a de S. Pedro. Cobre a nave magnífica abóbada pintada com frescos por Lourenço da Cunha (1740), mostrando pinturas arquitetónicas em ilusórias perspetivas.Na capela-mor guarda-se a velha imagem de Nª. Srª. do Cabo, protegida por maquineta em prata dourada posta no trono do retábulo.Este templo possui ainda dois quadros atribuídos ao conceituado pintor de Quinhentos conhecido por Mestre da Lourinhã - uma tábua representando Sto. António e outra Santiago Menor. Deixo aqui a lenda do Cabo Espichel que deu origem à veneração da Senhora do Cabo Espichel:Lenda da Nossa Senhora do Cabo Espichel Ano de 1215. Em Portugal reinava el-rei D. Afonso II. O Inverno tinha entrado duro. O vento zunia, impertinente e bravo. A chuva era grossa e caía sem pressa de chegar ao fim. O mar bramia, revoltado pelos assobios e açoites do vento. Enfurecido, arremessava-se de encontro às rochas que bordam a costa portuguesa. Joguete das ondas, surgiu mesmo em frente do cabo Espichel uma nau que pertencia a um mercador inglês, senhor de grande fortuna e génio aventureiro. Com o cair da noite, a tempestade aumentava. A bordo viviam-se momentos trágicos. Apesar da coragem da tripulação, o navio parecia desfazer-se de momento a momento, batido como um simples brinquedo pela ventania brutal e pelo bailar diabólico das ondas revoltas. Então, no desespero causado pela tragédia, os homens recorreram ao padre Hildebrando, frade eremita dos agostinhos, que os acompanhava. O padre — dizia-se — trazia consigo uma pequena imagem milagrosa. Um dos marinheiros mais afoitos gritou: — Padre, salvai-nos! Só vós podeis ajudar-nos! Os outros fizeram coro: — Salvai-nos, padre! O padre, que parecia meditar, quase indiferente ao espectáculo que o rodeava, ergueu o olhar para os que pediam a sua ajuda. Falou-lhes: — Tende calma, meus filhos! Tende coragem! Deus há-de valer-nos! Deus e Nossa Senhora, cuja imagem sempre me acompanha. Vou buscá-la para que a possais contemplar. E tende fé, muita fé! Ela há-de fazer mais este milagre! O marinheiro que primeiro havia falado gritou, cortando o barulho da tempestade: — Deus o oiça! Os outros imploraram: — Que Nossa Senhora nos salve! O padre, conforme pôde, pois os balanços da nau eram fortes, foi buscar a imagem. Mas, quando regressava, uma onda mais alta cobriu os homens. Houve gritos, alarido, entre o escorrer da água do mar. Quando a onda passou, os homens estavam todos. Bem se olhavam, tentando localizar-se. Mas o padre juntava as mãos vazias num gesto desesperado. Gritou: — Meus filhos! A santa imagem desapareceu! Logo os homens se lamentaram em altos brados: — Estamos perdidos! Perdidos! O padre pareceu recobrar a calma. — Não devemos perder a fé! Oiçam-me! Vamos ajoelhar conforme pudermos. Aproximai-vos de mim! E faremos em conjunto uma oração, como se fôssemos um só. Dizei comigo: «Ave, Maria… cheia de Graça...». A oração sobrepôs-se à tempestade. E quando chegou ao fim, os homens não podiam crer no que os seus olhos viam. Por estranho milagre tudo se transformara. As ondas tinham acalmado. O vento deixara de soprar. A chuva não caía mais. E uma luz intensa iluminava o Oceano. Luz tão bela e tão forte como a que, segundo contam os antigos, surgira naquela noite singular em que a Virgem Mãe dera à luz o Menino Deus! A manhã raiava. O dia nascera claro. Alegres como crianças, os homens pisaram terra firme. Com eles ia o bom padre Hildebrando. E foi ele quem fez a maravilhosa descoberta. Cheio de alegria, gritou: — Olhai, meus filhos, olhai!... Reparai para esta caverna do cabo! Depressa! Quero que verifiqueis com os vossos próprios olhos! É ela, não é verdade? É a imagem de Nossa Senhora que eu trazia! Os homens haviam acorrido e olhavam surpreendidos tão precioso achado. Lá estava, de facto, numa das pequenas cavernas do cabo Espichel, como se tivesse sido posta ali por mãos divinas, a pequena imagem de Nossa Senhora, envolta numa autêntica auréola de luz. Padre Hildebrando exclamou com unção: — Foi um milagre que agradeço ao Céu! E voltando-se para os marítimos: — Meus filhos! Agora já vos posso dizer toda a verdade! A imagem que observais foi talhada e feita pelos próprios anjos! É única no mundo! Ajoelhai, meus filhos! Os homens ajoelharam, em muda contemplação. Só os seus pensamentos se elevaram numa prece nem sempre bem definida. E conta a lenda velhinha que, a expensas de toda a tripulação e com o consentimento superior, ali mesmo se construiu uma capelinha para guardar tão preciosa imagem. Como capelão, ficou o padre Hildebrando. E assim começou a história de Nossa Senhora do Cabo Espichel. Os anos passaram. Dois séculos, talvez. E foi por volta do ano 1410 que um velho de Alcabideche teve, certa noite, uma visão de espantar. Estava ele no quintalório da sua casinha quando viu subitamente, lá ao longe, uma estrela muito luminosa, muito brilhante. Tentou o velho localizá-la e calculou que essa estrela devia estar sobre o cabo Espichel. A pé, a distância de Alcabideche ao cabo era grande e difícil. Foi o velho deitar-se, sempre a pensar na estrela. De madrugada sonhou que a própria estrela lhe falara, dizendo: — Admiras-te do meu brilho, que encandeia os teus olhos? Pois não te admires! Marco uma presença grandiosa: a de Nossa Senhora! Sim... Nossa Senhora está numa lapa do cabo Espichel. Vai lá vê-La e constrói uma nova capelinha, já que a outra foi destruída. Vai, não demores! Nossa Senhora do Cabo espera por ti! Quando, no sonho, a estrela desapareceu, o velho acordou. Mas passou o resto da noite num sobressalto. Não conseguia conciliar o sono. Assim, mal a alva rompeu, o velho de Alcabideche pôs-se a caminho. Andou, andou, quase sem descansar. Atravessou o Tejo num batel. A noite chegou. Apressou o passo até à povoação mais próxima, e encontrou-se na Caparica, onde, exausto, resolveu pedir pousada. Discretamente, bateu a uma porta. De dentro, uma voz feminina perguntou: — Quem bate a estas horas? O velho esclareceu: — Perdi-me no caminho… e já é noite... A mulher abriu a porta da casa e ficou-se a olhar o homem. Depois explicou: — Vivo só... mas pode entrar. Também já sou velha... O de Alcabideche entrou, agradecendo: — Que Deus a recompense! Sinto-me, na verdade, tão cansado! Ela indagou: — Vem de muito longe? Sentando-se e suspirando de alívio, ele concordou: — Sim, venho de muito longe. E ainda terei muito que andar! Curiosa, ela fez mais uma pergunta: — Está a cumprir alguma promessa? Ele meneou a cabeça: — Não. Correspondo apenas a um pedido. — Um pedido? — Sim… e feito por uma estrela! Ela admirou-se mais: — Por uma estrela?... Por uma estrela do céu? — Isso mesmo. — Como é que isso foi? — Eu lhe conto. E, excitado pela recordação do sonho, o velhote de Alcabideche contou a sua estranha história à velhota da Caparica. Não cabendo em si de surpresa, a velhota exclamou: — Santa Mãe de Deus! O que me diz! Mas isso é espantoso! O velhote sorriu. E apontou, olhando por uma fresta da janela: — Vê, além, aquela luz? Lá está a estrela! É ali que está a imagem da Virgem! Ficou pensativa, a boa velhota. Por fim, disse ao de Alcabideche: — Vá deitar-se, que precisa descansar. Durma bem, e amanhã voltaremos a falar no assunto. Mas a velha não se deitou. Ficou olhando pela janela a estrela brilhante. De súbito falou alto, mesmo estando só: — Como eu gostava de ir ao cabo Espichel! Como eu gostava! Ergueu o busto. Os seus olhos baços brilhavam a um repentino pensamento. Exclamou: — É isso mesmo! Vou à frente do velho! A luz me guiará! Vou mesmo de noite. Dentro de pouco tempo será manhã. Eu desejo tanto ir orar à Senhora que está no Cabo! Disse e fez. Embuçou-se num xaile e saiu, deixando o velho de Alcabideche entregue ao seu profundo sono. Quando o velho despertou e se viu sozinho, logo compreendeu o que se havia passado. A manhã já ia alta. Afligiu-se por isso, mas disse para si mesmo: — As mulheres são sempre as mesmas! Para que lhe comuniquei eu o meu segredo? Agora vai chegar em primeiro lugar. Tenho de caminhar tão depressa quanto possa! E o de Alcabideche partiu em direcção ao Cabo. Estugava o passo. O desejo de encurtar o tempo que o separava da Senhora dava-lhe novas forças. E, assim, apesar da idade e do cansaço que o ia dominando, conseguiu chegar ao cabo Espichel. Porém, o seu primeiro sentimento foi de desânimo, quase de revolta. Ajoelhada aos pés da Virgem, diante da lapa, estava a velha da Caparica. Ele zangou-se: — Traiçoeira! Se queria vir, ao menos viesse comigo! Fui eu que lhe contei tudo. E foi a mim que a estrela disse para vir aqui! A velha mostrou-se pouco à vontade. — Traiçoeira, não! A Virgem pertence a todos! E se vossemecê dormia, porque havia eu de esperar? Sobrepondo-se à voz da velha, uma voz bonita soou: — Não se zanguem! Porque não hão-de ser os dois a promover a construção de uma nova capelinha neste lugar? Os velhos entreolharam-se, primeiro amedrontados. Depois caíram de joelhos, e ali mesmo prometeram pedir a quem pudesse, para se construir a capelinha dedicada à Nossa Senhora do Cabo Espichel. E um raio de sol, como língua de fogo, beijou a cabeça dos dois velhos, absortos na contemplação da imagem da Virgem! A nova capela foi construída. E ainda hoje lá está uma pedra gravada onde se lê uma inscrição comemorativa do facto. O tempo continuou correndo. E a feliz aventura dos dois velhos correu paralela ao tempo, tornando-se popularíssima. E como o povo português, na sua alma de poeta, perpetua em verso os factos que sente mais seus, logo surgiu a quadra que ficará de geração para geração: O velho de Alcabideche E a velha da Caparica Foram à Rocha do Cabo, Acharam prenda tão rica!